segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

E as outras batatas

Sumi…
Pois eu explico. Tive um janeiro extremamente conturbado, com aniversário (EBAAA), correrias, decepções e mudança de planos. A conclusão é que, devido a vários motivos, alguns que não quero expor aqui, tive que replanejar minha volta pra muito antes do que eu esperava.
Nesse quase um mês que me faltava tive que enfiar muitas coisas, e infelizmente não tive cabeça pra escrever. Entre as milhões de coisas oficiais que tive que fazer por aqui, ver amigos queridos e aproveitar um pouquinho, meus últimos dias aqui seriam basicamente para aproveitar um pouco mais da Alemanha e Europa. Fui pra Berlin, Bremen, Dublin e, daqui a dois dias, para Florença. Vou escrever sobre todas essas últimas experiências, mas antes PRECISO falar de uma das maiores surpresas que já tive na vida.

Dublin.



Confesso que meu primeiro destino não era a Irlanda. Sempre achei a cultura e a história interessantes, apesar de não saber muito, mas na minha listinha de lugares a visitar ela não estava no topo. Até que a Ryanair me surge com passagem ida e volta por uma merreca.
Well, vamos lá então!

Posso dizer que a minha falta de expectativas fez da minha viagem mil vezes melhor. E Dublin (e a Irlanda) me conquistou, surpreendeu, e mudou muitas coisas em mim.

Sim, mudou mesmo, não me encham.

Nesses cinco dias de Dublin fiz grandes amizades (uma das grandes vantagens de se viajar sozinha), quase morri caminhando (cerca de 16km por dia), fiquei encantada pelo jeito (e sotaque) dos irlandeses, essa gente tri e cheia de garra, que passou por milhões de perrengues e segue no bom humor. Adoro.

St. Patrick's Cathedral



it was a good fight anyhow...

irish writers

Temple Bar

cliffs cliffs cliffs









creepy


Brasil e USA :D


Cheesecake de Bailey's




Dublin writers museum

Sinistra na Biblioteca da Trinity College


The church, restaurante e bar localizado dentro de uma antiga igreja






Nos meus dias dublinense ouvi muito português falado na rua.

  • Eu vejo brasileiros
  • Com que frequência?
  • O tempo todo!
Nos meus dias dublinenses ouvi muita música na rua, comi muita carne, tomei uma quantidade um pouco reprovável de Guinness, me apaixonei pelo Mocha da Butler’s, me apaixonei pelo white hot chocolate dum lugarzinho lá que não me lembro o nome, aprendi muito sobre as pessoas que fizeram da Irlanda o que é, sobre a história de luta e sobre a cultura celta e católica, tão presentes por lá. Amei demais, senti como se estivesse com “the luck of the irish” comigo o tempo todo.

Sorte essa que me fez ter um dia muito surreal.
No meu último dia, resolvi passear e procurar alguns pontos turísticos literários da cidade. Na minha busca por um café importante onde o James Joyce encontrou sua mulher pela primeira vez, olhei pro lado, pra janela de um café por onde estava passando, e na placa dizia “Café onde James Joyce conheceu sua esposa”.

QUÊ?

Sim. Entrei, me sentei perto da janela, e pedi um café. Enquanto sentada, fiquei pensando no meu próximo passo. Pensei que visitar a National Gallery da Irlanda seria uma boa ideia. Olhei pela janela. Qual era o prédio que eu via do outro lado da rua?

A National Gallery.

Resolvi ir, ao entrar me deparei com a exposição Lines of Vision, que tratava de escritores irlandeses da atualidade e suas obras preferidas da coleção da galeria. Na exposição, ao lado das obras se podia ler um pouco sobre a pessoa que tinha escolhido a obra. Juntamente com a exposição aconteciam alguns eventos com os próprios autores. Saraus, palestras, discussões. Resolvi olhar o panfleto, e não é que tinha uma Poetry Reading acontecendo em menos de meia hora. Resolvi entrar bem feliz, e não é que a própria poeta iria ler seus poemas? Achei o máximo. Quando ela se parou lá na frente e leu seus poemas, explicando um pouco suas motivações para escrever cada um, e lendo um poema feito para a mãe dela, com a mãe sentada do meu lado, tudo isso foi muito emocionante pra mim. Chorei, né. Nunca vou esquecer desse momento. No meu mundinho tosco foi extremamente importante, ok?

Falando em momentos importantes, em um dos dias fiz um tour para a costa oeste da Irlanda, com o ponto alto sendo os famosos Cliffs of Moher. Tivemos o guia mais legal do universo sideral, um senhor irlandês querido que me deu uns Rocky Roads, abraçou um moço que disse que o ar condicionado não estava quente o bastante, e que cantava uma música sobre cada cidade por onde passamos. Além das famosas histórias com MUITA licença poética. Meu guia era um irlandês, um verdadeiro storyteller.

Ao chegar nos cliffs tive uma sensação meio esquisita. Ver aquela imensidão e imaginar tudo o que teria acontecido ali, morar em algumas das ilhas que se via da costa, morar na costa, imaginar como deve ser diferente a vida ali. Ao mesmo tempo, me dei conta de como somos insignificantes. E cheguei a uma daquelas conclusões impactantes que temos na vida às vezes, pelo menos quem gosta de viajar as tem. Ao ver aquilo, ao estar à beira dos cliffs, tive aquela realização de que o dinheiro, as coisas materiais, nada interessa, dinheiro não é nada se me pode trazer até aqui. Quero dizer, se eu puder torrar todo o meu dinheiro para poder ter a oportunidade de chegar nesses lugares, isso é, para mim, o único bom motivo para se torrar dinheiro. Isso, e livros, óbvio.

Enfim. Estou cansada e minha escrita está repetitiva, mas achei que a Irlanda merecia um post antes de tudo.

Beijos,
Lúcia

e as batatas irlandesas.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Aquela Londres, velha amiga

Agora, depois de ter voltado e colocado tudo no seu devido lugar posso me sentar e colocar no papel as sensações dessa viagem que foi extremamente terapêutica e inspiradora.

2008 e 2015

Fui pra Londres pela primeira vez aos 17 anos, em 2008. Foi a minha primeira vez aos 17 anos, em 2008. Foi a minha primeira viagem internacional, com minha melhor amiga. Toda a minha infância foi povoada por aquela cultura, e ver as coisas ao vivo mudou muita coisa em mim. Como em qualquer viagem, mas essa veio em um momento crucial. Antes do meu último ano de colégio, antes de ter que decidir o que fazer da vida (o que, vamos ser sinceros, ainda não aconteceu). Essa época meio turbulenta e cheia de crises existenciais. E Londres me fez escolher o inglês como a língua que eu ia estudar, e a cultura que (não) escolhi gostar. Voltar para Londres alguns meses depois da minha formatura teve muito significado. Seis anos se passaram. O que mudou? Quem é a Lúcia de 6 anos atrás? Quem é a Lúcia de agora? Quem é a Londres de 6 anos atrás? Quem é a Londres de agora?
Voltei com muitas diferenças e semelhanças. Fui com outra melhor amiga. Não tinha aulas, ou responsabilidades. Não tinha a necessidade de ver alguma atração turística. Vivi um pouco ali também. Não foi necessariamente uma vida melhor da de 2008, nem pior, só diferente. Vi musicais que me marcaram muito, vivi um pouco da vida prazerosa que no dia a dia a gente esquece de ter. Acho que isso se chama férias, né? Mas para mim foi mais forte que isso. Depois de um natal legal, diferente, mas com algumas decepções, depois de uma série de rejeições e a certeza de que eu voltaria e teria que entrar de novo nessa situação de mandar mil emails sem nenhuma resposta positiva e não saber o que vai ser de mim no mês que vem, eu precisava de Londres. Eu precisava daquela velha amiga.

Eu e a Lari e a Tower Bridge, o passado das selfies!

Eu precisava de cafés preguiçosos, das caminhadas no parque, das fotos, das compras, das comidas decentes (e indecentes), de dormir um pouco mais sem a culpa de ser obrigado a “aproveitar” que nos é imposta. De fugir pras livrarias, onde somos compreendidos (e onde podemos sentar), ver musicais legais e lembrar porque eu gosto tanto de música, teatro, cultura em geral, em cada esquina, e valorizar tudo o que eu aprendi e vivenciei.
Poder passar o ano novo em uma casa em Surrey com os pais do namorado da minha melhor amiga, que me fizeram uma casa na casa deles sem nem precisar, só talvez como agradecimento por ser amiga de quem sou, ou por serem simplesmente pessoas especiais, que me deram um pouquinho de felicidade e fizeram do meu ano novo um momento de reafirmação dos meus sonhos e das minhas vontades.
Poder ir e saber que Londres tá logo ali, cheia de pessoas legais e de braços abertos pra quando eu precisar, é minha terapia. Como uma velha amiga que não vemos quase nunca, mas que ao encontrá-la é como se o tempo não tivesse voado, como se fosse ontem.
Só que foi há 6 anos atrás.

Eu e a chummy Deborah