domingo, 28 de dezembro de 2014

Lübeck - a aquabundância das cidades hanseáticas

Lübeck, o que dizer dessa cidadezinha que eu conheci na chuva mas já considero pacas?


Como toda e qualquer cidade alemã, o que se ouve sempre é:

- Mas tu tem que vir no verão!

Tô começando a ficar desconfiada, talvez eu tenha que começar a pensar na ideia de vir pra Europa no verão também.





Marquei com o Juli (sim, eu e meu ex somos amigos, choque, incredulidade, retorno da crença na humanidade, se acalmem, deu.) de ir na segunda pré-natal (isso soou estranho) pra Lübeck, que é uma cidade que comigo tem história. Tentei ir com alguns amigos no início da minha estada aqui, mas era um dia em que estavam bloqueando os trilhos como protesto. Fiquei com aquilo na cabeça, pensei que ''agora PRECISO ir pra essa cidade, questão de honra". Isso também porque eu gosto dos Buddenbrooks, um livro cuja história se passa na cidade, por ninguém menos do que um tio chamado Thomas Mann, também um "lübeckense".

creeping nos Buddenbrooks

Tá, até aí tudo bem. O tempo em Hamburgo tava "Ó" uma bosta. Pensamos que em Lübeck estaria melhorzinho.

Ledo engano.

O problema é que a cidade fica numa ilha dentro duma ilha. Esses hanseáticos curtem dificultar as coisas.

Não minto, de 500 metros caminhando na chuva da estação central até o café mais próximo molhei até o fundo da minha alma. Com isso quero dizer que molhei a minha bunda.



Passeamos muito elegantemente (não), nos escondemos no café de Marzipans (SIM), nos perdemos tentando encontrar a tal da casa dos Buddenbrooks que fica NO CENTRO DA CIDADE QUE É MINÚSCULA e bebemos muito Glühwein (ou quentão de dezembro) pra afogar as mágoas e tentar esquecer dos pés molhados. A arquitetura da cidade é muito interessante, se desse pra olhar pra frente sem levar gotas no olho. Deve ser muito bonita no verão.

AI QUE VENTO TRI!


A previsão do tempo dizia que em Lübeck teria um "SCHAUER" (vide dicionário numtôafimdeexplicar)

MAS QUE PUTA SCHAUER, viu!

Mesmo com vento e chuva na cara e guarda-chuva entortando numa cena de filme de comédia, a cidade é lindinha demais mesmo. Com ou sem chuva.
Na verdade eu não sei se ela é bonitinha sem chuva, mas promete.

Deve ser lindinha demais no verão.


luz inconveniente 

legal comer cabelo 

Lúcia (comi salsicha selvagem, serve?)


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Um tal de bab.labla, ou “o que tu tá fazendo afinal?”




Então. Eu vim pra Alemanha meio doida no susto atirando no escuro sem nenhuma certeza do que eu faria da vida. Vocês imaginem que pra uma pessoa que teve crises horríveis de ansiedade, ansiedade essa que ameaça voltar de vez em quando, uma perspectiva dessas parece não ser a melhor ideia, não é? Pois é.


Mas eu vim mesmo assim.
Pra falar a verdade, não posso dizer que foi difícil pra mim. Tenho muita sorte. Diria eu que ‘’mais sorte que juízo’’, mas eu também tenho muito juízo, então não encham.


Eu tenho família aqui, e não é uma família qualquer, além disso, tenho a cidadania alemã,  que facilita 90% das coisas.


Mas nos últimos meses mandei uma infinidade ridícula de emails com currículos e com a tão amada ANSCHREIBEN que esses alemães adoram adorar. No fim, com as malas e nos 45 minutos do segundo tempo, recebo um email da querida da Asia, do bab.la, que me perguntou se eu estaria disposta a me relocar para Hamburgo.


DISPOSTA? EU TAVA DE PASSAGEM COMPRADA E MALA FEITA.
Mas beleza. Desde que eu aceitei a oferta, sabia que não teria chance de ser efetivada, pois tem uma nova estagiária chegando em fevereiro.


Acho que isso ajuda na pressão que eu sentiria. Sei que só vou ficar mais um mês, por isso algumas das preocupações que sempre cercam um emprego assim ficam em segundo plano, e a prioridade é mostrar serviço no pouco tempo que temos. E me divertir também, é claro.


Acho que poucas pessoas, inclusive na minha faculdade, onde todo mundo era tradutor ou de alguma forma conectado com o mundo das línguas, poucas pessoas sabem tudo o que se passa nos bastidores dos serviços de dicionários online. Eu mesma nem sempre compreendo inteiramente como uma empresa que oferece dicionários em 27 idiomas (além de n outras coisas) consegue sobreviver mantendo um trabalho de qualidade e gratuito. Daí eu lembro dos meus colegas e entendo o porquê.


Eu, como estagiária de Português e Online Marketing, sou responsável por tudo o que é relacionado com a lingua portuguesa, incluindo traduzir o site, adicionar MUITAS palavras novas por semana aos dicionários, corrigir sugestões de usuários, responder emails de usuários, enviar email pedindo pra sites colocarem o link do dicionário bab.la em seus sites (FICADICA, GENTE, MEAJUDEM) além de analisar as estatísticas do mercado em português no Google Analytics, criar quizzes e escrever textos pro blog Lexiophiles.


UFA.


Não falei nem a metade!


É a primeira vez que eu trabalho nesse regime periodo integral. É legal descer na estação central e ir caminhando pela rua mais movimentada daqui em direção ao escritório, que fica no coração de Hamburgo, do lado da igreja da Cientologia (não nos julguem), chegar todos os dias, ser cumprimentada por vários ‘’Good Morning’’ e ouvir a colega italiana rindo do meu lado, ou os chefes franceses falando entre si em francês ou com os outros em alemão.


Dá um nó no cérebro. Mas é muito legal saber que num espaço de 3 cômodos temos, pelo menos, 12 países diferentes. Valoriza também o fato de que eu sou brasileira. Isso eu sinto no geral, mas é legal também ser valorizada pela língua e cultura que são tuas no teu local de trabalho (e eu escrevi isso com ‘tu’ porque é muito legal né, vamos combinar).


Todas as quintas temos um almoço oferecido pela empresa, que pode ser feito por algum colega ou comprado em algum restaurante próximo. No pouco tempo em que estou aqui já comi comida do chipre e da índia. Quer dizer, difícil não tá.


Além disso, temos frutas, café, água, leite, tudo de graça e disponível.
Vocês me desculpem, mas eu fico feliz com essas regalias.


O que fazemos aqui poderia ser visto como trabalho de escritório típico, só que tem um desgaste intelectual muito grande, além da responsabilidade que recai sobre cada um dos estagiários, já que somos RESPONSÁVEIS por nossas línguas (com muita supervisão e controle de qualidade, claro).


Além disso, estou com um baita de um orgulho do Brasil, que é o pais da zoeira, mas também é um dos mercados mais importantes do bab.la, onde muita gente procura muitas palavras constantemente no dicionário. Vocês podem interpretar como quiserem, eu interpreto que é porque o brasileiro gosta de tentar entender as coisas, tendo ou não os materiais e a infra-estrutura para tal.


Enfim, já estou tendo que procurar algo para fevereiro, e não sei se quero continuar nessa área das línguas. Para vocês terem uma ideia, as partes mais legais são escrever os artigos pro blog e aprender coisas novas de SEO e Marketing, então não sei direito onde essas coisas vão me levar. Mas a experiência conta demais. Vou sempre pensar muito antes de buscar palavras em algum dicionário online, vou sempre pensar na pessoa que está por trás.


Por sinal, cada vez que vocês procuram alguma coisa nos dicionários de português e não acham, tudo isso vai pra uma lista que eu tenho que revisar e traduzir. Então, por obséquio, não me bombardeiem com palavras toscas porfavorobrigada.


E se vocês ficarem digitando coisas obscenas ou frases inteiras, estaremos sempre de olho (insira risada maléfica) e a Benedetta vai provavelmente dar uma gaitada do meu lado, rindo dos pobres mortais que povoam o reino da internet.


Brincadeira.




Lúcia

domingo, 14 de dezembro de 2014

Oma maa mansikka, ou "as aves que aqui gorjeiam..."

Um dos meus livros favoritos se chama “Nova Gramática Finlandesa” escrito pelo tradutor italiano Diego Marani. O livro não é uma gramática do finlandês, como o nome poderia sugerir, mas um romance extremamente poético sobre a identidade lingüística. Como era de se esperar, o livro traz várias reflexões sobre línguas e culturas. 
Uma das primeiras coisas sobre o finlandês que aprendemos ao ler é a expressão “Oma maa mansikka; muu maa mustikka” que, traduzida ao pé da letra, significaria “Outra terra mirtilo, nossa terra morango”, quer dizer, segundo a lógica dos finlandeses, as outras terras podem ser legais, mas não se compara ao nosso lar, à nossa terra.

Aí me peguei pensando...
“Eu gosto muito mais de mirtilos, como isso funcionaria pra mim então?”

Talvez pros finlandeses o mirtilo seja lugar-comum. Talvez o morango seja mais valorizado, extremamente especial.

Não sei.

Mas isso tudo depende de gosto.

Então por que escolher frutas tão gostosas para se fazer uma comparação baseada em gosto e que pretende estabelecer uma verdade meio universal?

Eu prefiro mirtilo. Isso quer dizer que eu prefiro outras terras à minha terra natal? Isso quer dizer que eu prefiro estar longe de casa?

E se o mirtilo significa ter várias casas, como fica então?

E outra pergunta: E se a gente gosta dos dois em igual medida? Como fazemos então?

Eu acho que eu gosto de mirtilos e morangos.

Como eu faço então?

Aos finlandeses, peço desculpa pela dissecação de seu ditado popular, mas vocês tem que consertar isso aí.
Tô confusa.

Não sei se gosto de casa ou da rua.
Não sei se não tenho várias casas e várias ruas.

Descubram aí.

Atenciosamente,

Lúcia (só não gosto mesmo é de groselha)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Esse puta Ostwind

Esse é um texto de chorumelas meteorológicas.
Me agüentem!



Todos sabem que eu amo o inverno, ou pelo menos que não sou das mais amantes do verão. Pra falar a verdade, o outono é minha estação preferida, desde os tons até a temperatura. Mas o inverno sempre teve seu charme pra mim. Amo demais chás e bolos, o que combina muito mais com o friozinho do que com o calor senegalês de Porto Alegre. Amo sobretudos, roupas de inverno, blusões, amo ficar em casa debaixo das cobertas lendo e tomando um chá.

Mas esse não é um texto sobre o inverno.

Esse é um texto sobre um putadumventogeladodaporra chamado Ostwind.

Perdoem-me os de coração fraco, mas um vento desses merece ser adjetivado com palavrões.

Vocês podem me dizer “quer o quê? Se mudou pra Alemanha justamente no inverno!” ou “quer calor, volta pro Brasil”, etc.
Mas não é o frio que me incomoda.
É ESSE PUTA VENTO TRAIÇOEIRO.

Eu explico.
Saindo na rua, saindo DIRETO de um lugar aquecido com aquecimento central, confiro meu vestuário.
Meia-calça. Calça. Blusa. Blusão. Casaco de respeito. Cachecol de respeito. Luvas de pelica e de respeito. Até uma touca de respeito.
Fecho todos os botões e possíveis frestas.
Tudo certo.

Mas não. Numa cidade portuária cheia de canais e rio/mar/whatever o vento sempre faz uma curvinha.
É tipo o Minuano, mas ele não geme. Quem geme, de frio, são as pessoas.

O pior é parar numa esquina, esperando a sinaleira me deixar passar. Porque aqui eu espero. O ficar parada numa esquina é a morte da vida interior feliz e quente que eu outrora tivera.

cês vejam bem, até usei o mais-que-perfeito pra esse vento poético.

Esse vento filho da puta!

Eu gosto do friozinho batendo no rosto, de caminhar sem poder girar a cabeça nem 60 graus, do constante tirar e botar de luvas. Eu juro que eu gosto.

Mas esse vento embatuma meu bolinho.

O bom é que aqui, por esse ar marítimo, as riníticas conseguem respirar melhor.
É tipo uma nebulização, só que gelada.



Chego em casa e comento alguma coisa com o pessoal daqui.
Me dizem:
“Ah, o Ostwind”

Esse puta Oswind.