domingo, 28 de dezembro de 2014

Lübeck - a aquabundância das cidades hanseáticas

Lübeck, o que dizer dessa cidadezinha que eu conheci na chuva mas já considero pacas?


Como toda e qualquer cidade alemã, o que se ouve sempre é:

- Mas tu tem que vir no verão!

Tô começando a ficar desconfiada, talvez eu tenha que começar a pensar na ideia de vir pra Europa no verão também.





Marquei com o Juli (sim, eu e meu ex somos amigos, choque, incredulidade, retorno da crença na humanidade, se acalmem, deu.) de ir na segunda pré-natal (isso soou estranho) pra Lübeck, que é uma cidade que comigo tem história. Tentei ir com alguns amigos no início da minha estada aqui, mas era um dia em que estavam bloqueando os trilhos como protesto. Fiquei com aquilo na cabeça, pensei que ''agora PRECISO ir pra essa cidade, questão de honra". Isso também porque eu gosto dos Buddenbrooks, um livro cuja história se passa na cidade, por ninguém menos do que um tio chamado Thomas Mann, também um "lübeckense".

creeping nos Buddenbrooks

Tá, até aí tudo bem. O tempo em Hamburgo tava "Ó" uma bosta. Pensamos que em Lübeck estaria melhorzinho.

Ledo engano.

O problema é que a cidade fica numa ilha dentro duma ilha. Esses hanseáticos curtem dificultar as coisas.

Não minto, de 500 metros caminhando na chuva da estação central até o café mais próximo molhei até o fundo da minha alma. Com isso quero dizer que molhei a minha bunda.



Passeamos muito elegantemente (não), nos escondemos no café de Marzipans (SIM), nos perdemos tentando encontrar a tal da casa dos Buddenbrooks que fica NO CENTRO DA CIDADE QUE É MINÚSCULA e bebemos muito Glühwein (ou quentão de dezembro) pra afogar as mágoas e tentar esquecer dos pés molhados. A arquitetura da cidade é muito interessante, se desse pra olhar pra frente sem levar gotas no olho. Deve ser muito bonita no verão.

AI QUE VENTO TRI!


A previsão do tempo dizia que em Lübeck teria um "SCHAUER" (vide dicionário numtôafimdeexplicar)

MAS QUE PUTA SCHAUER, viu!

Mesmo com vento e chuva na cara e guarda-chuva entortando numa cena de filme de comédia, a cidade é lindinha demais mesmo. Com ou sem chuva.
Na verdade eu não sei se ela é bonitinha sem chuva, mas promete.

Deve ser lindinha demais no verão.


luz inconveniente 

legal comer cabelo 

Lúcia (comi salsicha selvagem, serve?)


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Um tal de bab.labla, ou “o que tu tá fazendo afinal?”




Então. Eu vim pra Alemanha meio doida no susto atirando no escuro sem nenhuma certeza do que eu faria da vida. Vocês imaginem que pra uma pessoa que teve crises horríveis de ansiedade, ansiedade essa que ameaça voltar de vez em quando, uma perspectiva dessas parece não ser a melhor ideia, não é? Pois é.


Mas eu vim mesmo assim.
Pra falar a verdade, não posso dizer que foi difícil pra mim. Tenho muita sorte. Diria eu que ‘’mais sorte que juízo’’, mas eu também tenho muito juízo, então não encham.


Eu tenho família aqui, e não é uma família qualquer, além disso, tenho a cidadania alemã,  que facilita 90% das coisas.


Mas nos últimos meses mandei uma infinidade ridícula de emails com currículos e com a tão amada ANSCHREIBEN que esses alemães adoram adorar. No fim, com as malas e nos 45 minutos do segundo tempo, recebo um email da querida da Asia, do bab.la, que me perguntou se eu estaria disposta a me relocar para Hamburgo.


DISPOSTA? EU TAVA DE PASSAGEM COMPRADA E MALA FEITA.
Mas beleza. Desde que eu aceitei a oferta, sabia que não teria chance de ser efetivada, pois tem uma nova estagiária chegando em fevereiro.


Acho que isso ajuda na pressão que eu sentiria. Sei que só vou ficar mais um mês, por isso algumas das preocupações que sempre cercam um emprego assim ficam em segundo plano, e a prioridade é mostrar serviço no pouco tempo que temos. E me divertir também, é claro.


Acho que poucas pessoas, inclusive na minha faculdade, onde todo mundo era tradutor ou de alguma forma conectado com o mundo das línguas, poucas pessoas sabem tudo o que se passa nos bastidores dos serviços de dicionários online. Eu mesma nem sempre compreendo inteiramente como uma empresa que oferece dicionários em 27 idiomas (além de n outras coisas) consegue sobreviver mantendo um trabalho de qualidade e gratuito. Daí eu lembro dos meus colegas e entendo o porquê.


Eu, como estagiária de Português e Online Marketing, sou responsável por tudo o que é relacionado com a lingua portuguesa, incluindo traduzir o site, adicionar MUITAS palavras novas por semana aos dicionários, corrigir sugestões de usuários, responder emails de usuários, enviar email pedindo pra sites colocarem o link do dicionário bab.la em seus sites (FICADICA, GENTE, MEAJUDEM) além de analisar as estatísticas do mercado em português no Google Analytics, criar quizzes e escrever textos pro blog Lexiophiles.


UFA.


Não falei nem a metade!


É a primeira vez que eu trabalho nesse regime periodo integral. É legal descer na estação central e ir caminhando pela rua mais movimentada daqui em direção ao escritório, que fica no coração de Hamburgo, do lado da igreja da Cientologia (não nos julguem), chegar todos os dias, ser cumprimentada por vários ‘’Good Morning’’ e ouvir a colega italiana rindo do meu lado, ou os chefes franceses falando entre si em francês ou com os outros em alemão.


Dá um nó no cérebro. Mas é muito legal saber que num espaço de 3 cômodos temos, pelo menos, 12 países diferentes. Valoriza também o fato de que eu sou brasileira. Isso eu sinto no geral, mas é legal também ser valorizada pela língua e cultura que são tuas no teu local de trabalho (e eu escrevi isso com ‘tu’ porque é muito legal né, vamos combinar).


Todas as quintas temos um almoço oferecido pela empresa, que pode ser feito por algum colega ou comprado em algum restaurante próximo. No pouco tempo em que estou aqui já comi comida do chipre e da índia. Quer dizer, difícil não tá.


Além disso, temos frutas, café, água, leite, tudo de graça e disponível.
Vocês me desculpem, mas eu fico feliz com essas regalias.


O que fazemos aqui poderia ser visto como trabalho de escritório típico, só que tem um desgaste intelectual muito grande, além da responsabilidade que recai sobre cada um dos estagiários, já que somos RESPONSÁVEIS por nossas línguas (com muita supervisão e controle de qualidade, claro).


Além disso, estou com um baita de um orgulho do Brasil, que é o pais da zoeira, mas também é um dos mercados mais importantes do bab.la, onde muita gente procura muitas palavras constantemente no dicionário. Vocês podem interpretar como quiserem, eu interpreto que é porque o brasileiro gosta de tentar entender as coisas, tendo ou não os materiais e a infra-estrutura para tal.


Enfim, já estou tendo que procurar algo para fevereiro, e não sei se quero continuar nessa área das línguas. Para vocês terem uma ideia, as partes mais legais são escrever os artigos pro blog e aprender coisas novas de SEO e Marketing, então não sei direito onde essas coisas vão me levar. Mas a experiência conta demais. Vou sempre pensar muito antes de buscar palavras em algum dicionário online, vou sempre pensar na pessoa que está por trás.


Por sinal, cada vez que vocês procuram alguma coisa nos dicionários de português e não acham, tudo isso vai pra uma lista que eu tenho que revisar e traduzir. Então, por obséquio, não me bombardeiem com palavras toscas porfavorobrigada.


E se vocês ficarem digitando coisas obscenas ou frases inteiras, estaremos sempre de olho (insira risada maléfica) e a Benedetta vai provavelmente dar uma gaitada do meu lado, rindo dos pobres mortais que povoam o reino da internet.


Brincadeira.




Lúcia

domingo, 14 de dezembro de 2014

Oma maa mansikka, ou "as aves que aqui gorjeiam..."

Um dos meus livros favoritos se chama “Nova Gramática Finlandesa” escrito pelo tradutor italiano Diego Marani. O livro não é uma gramática do finlandês, como o nome poderia sugerir, mas um romance extremamente poético sobre a identidade lingüística. Como era de se esperar, o livro traz várias reflexões sobre línguas e culturas. 
Uma das primeiras coisas sobre o finlandês que aprendemos ao ler é a expressão “Oma maa mansikka; muu maa mustikka” que, traduzida ao pé da letra, significaria “Outra terra mirtilo, nossa terra morango”, quer dizer, segundo a lógica dos finlandeses, as outras terras podem ser legais, mas não se compara ao nosso lar, à nossa terra.

Aí me peguei pensando...
“Eu gosto muito mais de mirtilos, como isso funcionaria pra mim então?”

Talvez pros finlandeses o mirtilo seja lugar-comum. Talvez o morango seja mais valorizado, extremamente especial.

Não sei.

Mas isso tudo depende de gosto.

Então por que escolher frutas tão gostosas para se fazer uma comparação baseada em gosto e que pretende estabelecer uma verdade meio universal?

Eu prefiro mirtilo. Isso quer dizer que eu prefiro outras terras à minha terra natal? Isso quer dizer que eu prefiro estar longe de casa?

E se o mirtilo significa ter várias casas, como fica então?

E outra pergunta: E se a gente gosta dos dois em igual medida? Como fazemos então?

Eu acho que eu gosto de mirtilos e morangos.

Como eu faço então?

Aos finlandeses, peço desculpa pela dissecação de seu ditado popular, mas vocês tem que consertar isso aí.
Tô confusa.

Não sei se gosto de casa ou da rua.
Não sei se não tenho várias casas e várias ruas.

Descubram aí.

Atenciosamente,

Lúcia (só não gosto mesmo é de groselha)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Esse puta Ostwind

Esse é um texto de chorumelas meteorológicas.
Me agüentem!



Todos sabem que eu amo o inverno, ou pelo menos que não sou das mais amantes do verão. Pra falar a verdade, o outono é minha estação preferida, desde os tons até a temperatura. Mas o inverno sempre teve seu charme pra mim. Amo demais chás e bolos, o que combina muito mais com o friozinho do que com o calor senegalês de Porto Alegre. Amo sobretudos, roupas de inverno, blusões, amo ficar em casa debaixo das cobertas lendo e tomando um chá.

Mas esse não é um texto sobre o inverno.

Esse é um texto sobre um putadumventogeladodaporra chamado Ostwind.

Perdoem-me os de coração fraco, mas um vento desses merece ser adjetivado com palavrões.

Vocês podem me dizer “quer o quê? Se mudou pra Alemanha justamente no inverno!” ou “quer calor, volta pro Brasil”, etc.
Mas não é o frio que me incomoda.
É ESSE PUTA VENTO TRAIÇOEIRO.

Eu explico.
Saindo na rua, saindo DIRETO de um lugar aquecido com aquecimento central, confiro meu vestuário.
Meia-calça. Calça. Blusa. Blusão. Casaco de respeito. Cachecol de respeito. Luvas de pelica e de respeito. Até uma touca de respeito.
Fecho todos os botões e possíveis frestas.
Tudo certo.

Mas não. Numa cidade portuária cheia de canais e rio/mar/whatever o vento sempre faz uma curvinha.
É tipo o Minuano, mas ele não geme. Quem geme, de frio, são as pessoas.

O pior é parar numa esquina, esperando a sinaleira me deixar passar. Porque aqui eu espero. O ficar parada numa esquina é a morte da vida interior feliz e quente que eu outrora tivera.

cês vejam bem, até usei o mais-que-perfeito pra esse vento poético.

Esse vento filho da puta!

Eu gosto do friozinho batendo no rosto, de caminhar sem poder girar a cabeça nem 60 graus, do constante tirar e botar de luvas. Eu juro que eu gosto.

Mas esse vento embatuma meu bolinho.

O bom é que aqui, por esse ar marítimo, as riníticas conseguem respirar melhor.
É tipo uma nebulização, só que gelada.



Chego em casa e comento alguma coisa com o pessoal daqui.
Me dizem:
“Ah, o Ostwind”

Esse puta Oswind.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tá na hora de ser adultinha!

Pois então, o título diz tudo.

Eu sempre tive, em várias situações, visões completamente opostas de mim mesma.
Acho que isso vem de ter sido criada em dois mundos. Duas famílias e situações diferentes, ao mesmo tempo.

Oi, narcisismo!


Para minhas primas, naqueles terríveis anos da adolescência, eu era a única que morava na capital. Filha única. Eu era, consequentemente, mimada e patricinha. Eu acho que nessa parte da minha vida eu aceitei esse papel pra mim. A gente aceita papéis, inclusive os que impomos sobre nós mesmos.
No outro lado, na cidade grande, no colégio, eu não era nem de longe mimadinha ou patricinha. Acho que é a comparação. Eu era a guria meio grande, que às vezes falava alguma piada, tinha mil coisas extra classe, tocava uns instrumentos aí, lia umas coisas, saía pra acampar ou que achava normal fazer xixi no mato.

Tá certo, eu era mais do que isso, eu acho. Mas vocês entendem onde eu quero chegar?
Eu estou sempre preocupada em QUAL das caixinhas tipificadoras eu seria colocada. Mesmo que a realidade não fosse bem assim.

Eu nunca soube o que eu sou ou o que eu quero ser. Quando eu me maquio, me arrumo, penso, ao mesmo tempo, que as outras pessoas me acham uma farsa, uma desengonçada troglodita que quer se fazer feminina e arrumadinha, tentando cumprir um papel, ou, no extremo oposto, que eu sou uma pessoa extremamente fútil, só preocupada com a aparência. Essas duas Lúcias me perseguem minha vida inteira.

Eu sou prática e ao mesmo tempo romântica. Troglodita e ao mesmo tempo extremamente sensível. Fui acusada de ambos. Eu sou tranqüila e ao mesmo tempo sofro de ataques de ansiedade. Eu não dou tanta importância pra alguns detalhes da minha aparência, não faço escândalo com um cabelo fora do lugar ou uma unha quebrada, mas adoro maquiagem e comprar roupas novas.
Eu acho que eu sou normal, no fim, mas essa patrulha do não poder ser conflitante, do 8 ou 80, me aflige. E ser adulto te coloca, de certa forma, cada vez mais nessas caixinhas.

Só que se tornar adulto num país diferente, numa língua diferente, numa tela em branco, é diferente.
Na família dos Collischonns inteligentes, criativos e práticos eu sempre fui ativa na parte artística, mas sempre fui a que “não gosta de trabalhar”, “a que tira o corpo mole na hora de lavar a louça”.
Tá certo, eu odeio lavar a louça, e acredito no ócio criativo pós-prandial. Mas isso não vem ao caso.

Quando eu disse que ia pra Alemanha, ouvi muitos “não sabe cuidar de si mesmo no Brasil, como vai fazer em outro país?”. Pensando na Lúcia mimada, folgada e preguiçosa, óbvio.

Mas não sei de onde surgiu essa do “não sabe se virar”.

Todos sabem que, para ter que se virar, é necessário primeiro estar em uma situação em que isso seja necessário. Eu não estive nessa situação muitas vezes, pois tenho sorte, e quando estive, ADIVINHEM, me virei.

Eu funciono na pressão, escrevo trabalho na noite anterior. Mas eu me viro. Eu sempre dou um jeito.
Acho que o segredo  é não se fingir adulto. E isso eu sei bem. Eu sei perguntar, sem medo de parecer idiota, e estou fazendo muito isso aqui, em outra língua e cultura.
A alegria de lavar minha própria roupa, por exemplo, e a vergonha de admitir pra minha “mãe” aqui que eu, na verdade, nunca fiz.

Sim. Me julguem. Eu nunca tinha lavado uma roupa na máquina.

Mas eu aprendi, quando precisei. Eu aprendo e, no fim, me viro.

Não tem muito segredo.

O bom dessa tela em branco é que ninguém me vê como mimadinha patricinha adultinha ou troglodita. Eu posso ser quem eu quiser.

O ruim disso é eu eles só podem me ver como isso que eu sou agora, não como a pessoa que eu fui ou o que eu já fiz e conquistei.

Mas acho que novos começos são assim mesmo.
Viajar não resolve nossos problemas, carregamos eles conosco, mas viajar nos dá a oportunidade de um novo começo, talvez me dê a oportunidade de escrever uma nova Lúcia, um pouco mais adultinha, menos patricinha ou bichinho do mato.

Na verdade, me deixem ser o que eu quiser ser, com diminutivos ou não.


E isso eu digo pra mim mesma, já que sou a minha maior censora de identidades.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Carta para Catarina

Querida Catarina,

Aqui quem fala é a dinda. 
Ou prima. 
Como tu quiser me chamar.


Eu vi teu primeiro banho.
Eu vi a felicidade incomparável de um recém-pai.
Tua mãe cansada e feliz me abanando de longe.
Eu vi tua primeira casa. Lá eu vivi muitos momentos felizes.
Eu fugia pra lá em momentos de crise, pra ouvir conselhos, comer nachos, dançar ou pintar o cabelo.
Pra rir, pra compartilhar gargalhadas.
Teus pais eram pais antes de serem pais.

Eu lembro da tua primeira imagem, eu lembro de todos querendo dar palpite sobre quem seria a Catarina.
Espero que tu viva livre de palpites. E se os tiver, que saiba aceitá-los.
Espero que a vida seja tão boa quanto estar na barriga da mãe ouvindo ela cantar pra ti.
Eu provavelmente não vou ouvir ou estar próxima para presenciar tuas primeiras palavras.
Talvez nem os primeiros passos.
Talvez demore pra que tu saiba quem eu sou.
Quando a gente é assim, novo no mundo, só reconhece quem é presente.
Tua mãe também não viu meus primeiros passos, nem minhas primeiras palavras.
Mas ela tem um dos primeiros espaços no meu coração.
Assim como presenciou os primeiros choros de dor de cotovelo, e muitas primeiras alegrias.
Uma das minhas dindas quase nunca esteve no mesmo continente.
E hoje ela nem está.
No mundo.
Ela, com suas cartas e as ocasionais conversas na beira da praia, povoou minha infância e sempre esteve, pelo menos no meu coração, na mesma casa, na minha casa.
Eu espero que eu também povoe algum tipo de experiência tua.
Eu espero que eu veja muitos dos teus primeiros.
Assim como tu és minha primeira, e a primeira para muitos.
Eu espero que meu choro de saudade seja o teu primeiro.
Mas não chora, é um choro de felicidade também.
Pra conquistar algumas coisas às vezes precisamos de saudade.
Mas espero que tu nunca tenha que chorar de saudade.
E que se for, que seja por um motivo bom.
E que se for, que não seja só por primeiros, mas por últimos e meios também.
A dinda te ama, sem nem te conhecer tanto assim.


Muitos beijos da fria Hamburgo,

Lúcia


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

De abraços e carinhos

Eu gosto de abraçar.
Eu gosto de pessoas que abraçam. Eu sou uma dessas pessoas.
Mas eu aprendi e ainda aprendo todos os dias que o toque e o abraço constante não são as únicas maneiras de se demonstrar carinho.
Assim como eu me irrito quando supõem que a minha cultura é fraca por ser mais abertamente "calorosa" ou mais emotiva, me irrito quando me pego pensando que o modo diferente de demonstrar carinho, que não seja o mesmo que o meu, significaria a falta dele.

Não é falta.

Eu só não conheço ainda as pessoas aqui o bastante pra me sentir à vontade para o abraço.

O abraço é muito íntimo.

Eu não achava isso antes, agora eu acho.
Só que eu adoro surpreender alguém com um abraço. Às vezes é só isso que a gente precisa.
É legal surpreender alguém com intimidade.
No trem, um pai e um menininho, quase bebê, a criança não parava quieta, queria ficar em pé, e acabou encostando no meu joelho.
O pai ficou morrendo de vergonha.
"Para com isso! Tá incomodando a moça"
Eu olho, sorrio e digo "tudo bem, não tem problema" e volto a ler meu livro.
Esse pai ficou tranquilo.
Ele não tava incomodando a moça.
Eu gosto de ser a pessoa que não está sendo incomodada.

Eu aprendi, nos tempos de pré-adolescência, o significado de carinho. Achava que minha avó não gostava de mim porque ela não era tão "carinhosa" que nem a outra vó.
Só que fazer cachecóis, blusões, biscoitos e pão com mel é uma das várias maneiras de demonstrar carinho. Assim como insistir que eu tocasse direito alguma música na flauta porque, afinal, ela sabia que eu conseguia, e eu achava aquilo tudo muito chato.
O carinho é uma coisa muito tênue.
Eu ainda adoro o abraço, mas aprendi que o carinho está em coisas muito pequenas também.
O carinho tá, ao mesmo tempo, na mãe que diz "vai, te manda pra alemanha e aproveita muito lá" e do pai que chora e diz "com quem eu vou ver anaconda agora?"

Faz quase um mês que estou aqui. É pouco.
Mas eu sinto mesmo assim. Sinto falta do abraço que a virtualidade não pode me dar.
Mas aí de novo, sou eu achando que carinho é só isso.
Carinho é também quando o Julius chega em casa e grita 'HALLOOO' ou quando vem correndo na minha direção, abraça minhas pernas e diz "Niniiiiii"
Carinho é também quando a Clara segura na minha mão ou me dá tchau da janela.
Carinho é quando a Tini me põe um bule de chá separado só pra mim ou me alcança o tipo de pão que eu gosto.
Ou quando o Lorenz chega do trabalho e diz "Na? Wie war's?"
Carinho é quando a caixa do supermercado diz "Moin moin"

Tá, talvez isso não seja. Ela diz isso pra todos.

E quando vou visitar o primo do meu vô para um chá, ele me abraça longamente. Eu aproveito aquele abraço de Opa. É um pouquinho do meu jeito de demonstrar carinho.

Quem sabe quando eu conhecer melhor as pessoas aqui posso começar a demonstrar a minha forma de carinho.
Que é aquele abraço inesperado numa manhã de inverno.

Por enquanto, vou me contentando com os bules de chá e os ''moin moin'' de cada dia.



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Hessen Park, ou "o Opa pira!"


Quem não entende alemão deve ter pensado outra coisa muito sem pé nem cabeça ao ler esse título.
Eu explico:
Esse é um post dedicado ao meu Opa e à minha Oma (vô e vó), duas pessoas dedicadíssimas não somente aos papéis de pais, avós, profissionais, mas também no fomento da cultura alemã dentro do lar e na comunidade onde eles vivem. 
Esse é um textinho dedicado a vocês.

Então. Logo antes de eu me bandear pros lados de Hamburgo, meus queridos anfitriões me levaram pra conhecer o Hessenpark, um parque de tradições da região de Hessen. O parque tem um pouco de cada região e das profissões que foram e ainda são importantes pra vida em uma comunidade. Como parte da nossa família é dessa região, esse parque é ainda mais interessante. Mas ele também é interessante porque...

OLHA QUE BONITINHO!!


Durante todo o passeio fiquei pensando "ai, o Opa e a Oma TINHAM QUE VER ISSO AQUI" ou "TÁ IGUAL O PARQUE HISTÓRICO DE LAJEADO"

AHAM.

Explico porque.

Primeiro, encontro essa placa:


(pra quem não sabe, Schreiner é a família da minha Oma)

depois, vejo essa escola


daí, vejo um tear

(eles tem Workshops, vó, FICADICA)

Mas o mais legal foi ver várias famílias com crianças passeando por ali, e participando de todas as ações. Cortar madeira, fazer ferradura, cortar madeira, tudo, tudo e tudo. Era uma tentativa de fazer essa nova geração entrar mais em contato com essas atividades mais manuais, e menos com telas de smartphones e brinquedos de pilha. 


No fim, o que eu queria mostrar pra vocês eram as fotos que eu tirei, várias de coisas contra o sol, o que parece ser o meu "olho" pra fotos.

vide:





Mas vamos ficar felizes porque, afinal, tinha sol e céu azul.

Tinha também muuuuuita foto de coisas que eu achei interessante e tinha medo de não lembrar o que eram, e, de fato, eu não lembro o que algumas dessas coisas são. 









Por fim, pra Oma. Essa loja vende peças de artesanato em madeira feitas por uma associação de deficientes da região. Não é uma ideia legal?



Pro Opa, umas fotos bonitas...




E um oi dos meus anfitriões:

Enfim, esse texto é pra vocês porque eu sei que vocês leem esse blog :) E também pra agradecer por tudo, inclusive pelo contato constante que o Opa manteve com os primos daqui, o que me deu um teto, uma família aqui, e muito carinho recebido todos os dias. Ah, e agradeço por vocês terem feito a minha mãe e por todos os spekulatius, pflaumkuchen, spätzle, e por todos os abraços apertados e risadas cúmplices na mesa do almoço. 

Vielen Dank :)

Beijos 
e
Queijos dos Nibelungos

Lúcia e até agora não comi Kartoffelpuffer

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Simples Camponesa de Nobre Coração que vai Todos os Dias ao Bosque Recolher Lenha



Então, gente, eu fui num bosque. BOSQUE. BOS QUE. B O S Q U E.

Eu amo essa palavra. BOSQUE.



Digo bosque porque não era bem uma floresta.
Mas também não era um mato.
Nem um arbusto.

Não. Era um bosque digno das histórias que eu lia quando criança. É óbvio que como pottermaníaca precoce minha infância foi povoada por pessoas tomando cerveja amanteigada, ganhando suéter de natal (HELLO, 40 GRAUS QUE BONITO ESSE SUÉTER), e castelos e sobretudos e BOSQUES.

Então os bosques tem um significado especial pra mim. Algo familiar (na minha imaginação) e completamente estranho (no mundo um pouco mais real).




Só digo uma coisa: se eu tivesse um bosque do lado da minha casa eu nunca ficaria em casa. Ao mesmo tempo, IMAGINA DE NOITE (bruxa de Blair). Enfim.

Então, como eu não lembro o nome do bosque (sorry Rebecca) e como eu gosto muito de bosques, eu escrevi um texto inteiro sobre bosques.



I hit a new low

Lúcia (comi batata (frita) ontem)