quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Um tal de bab.labla, ou “o que tu tá fazendo afinal?”




Então. Eu vim pra Alemanha meio doida no susto atirando no escuro sem nenhuma certeza do que eu faria da vida. Vocês imaginem que pra uma pessoa que teve crises horríveis de ansiedade, ansiedade essa que ameaça voltar de vez em quando, uma perspectiva dessas parece não ser a melhor ideia, não é? Pois é.


Mas eu vim mesmo assim.
Pra falar a verdade, não posso dizer que foi difícil pra mim. Tenho muita sorte. Diria eu que ‘’mais sorte que juízo’’, mas eu também tenho muito juízo, então não encham.


Eu tenho família aqui, e não é uma família qualquer, além disso, tenho a cidadania alemã,  que facilita 90% das coisas.


Mas nos últimos meses mandei uma infinidade ridícula de emails com currículos e com a tão amada ANSCHREIBEN que esses alemães adoram adorar. No fim, com as malas e nos 45 minutos do segundo tempo, recebo um email da querida da Asia, do bab.la, que me perguntou se eu estaria disposta a me relocar para Hamburgo.


DISPOSTA? EU TAVA DE PASSAGEM COMPRADA E MALA FEITA.
Mas beleza. Desde que eu aceitei a oferta, sabia que não teria chance de ser efetivada, pois tem uma nova estagiária chegando em fevereiro.


Acho que isso ajuda na pressão que eu sentiria. Sei que só vou ficar mais um mês, por isso algumas das preocupações que sempre cercam um emprego assim ficam em segundo plano, e a prioridade é mostrar serviço no pouco tempo que temos. E me divertir também, é claro.


Acho que poucas pessoas, inclusive na minha faculdade, onde todo mundo era tradutor ou de alguma forma conectado com o mundo das línguas, poucas pessoas sabem tudo o que se passa nos bastidores dos serviços de dicionários online. Eu mesma nem sempre compreendo inteiramente como uma empresa que oferece dicionários em 27 idiomas (além de n outras coisas) consegue sobreviver mantendo um trabalho de qualidade e gratuito. Daí eu lembro dos meus colegas e entendo o porquê.


Eu, como estagiária de Português e Online Marketing, sou responsável por tudo o que é relacionado com a lingua portuguesa, incluindo traduzir o site, adicionar MUITAS palavras novas por semana aos dicionários, corrigir sugestões de usuários, responder emails de usuários, enviar email pedindo pra sites colocarem o link do dicionário bab.la em seus sites (FICADICA, GENTE, MEAJUDEM) além de analisar as estatísticas do mercado em português no Google Analytics, criar quizzes e escrever textos pro blog Lexiophiles.


UFA.


Não falei nem a metade!


É a primeira vez que eu trabalho nesse regime periodo integral. É legal descer na estação central e ir caminhando pela rua mais movimentada daqui em direção ao escritório, que fica no coração de Hamburgo, do lado da igreja da Cientologia (não nos julguem), chegar todos os dias, ser cumprimentada por vários ‘’Good Morning’’ e ouvir a colega italiana rindo do meu lado, ou os chefes franceses falando entre si em francês ou com os outros em alemão.


Dá um nó no cérebro. Mas é muito legal saber que num espaço de 3 cômodos temos, pelo menos, 12 países diferentes. Valoriza também o fato de que eu sou brasileira. Isso eu sinto no geral, mas é legal também ser valorizada pela língua e cultura que são tuas no teu local de trabalho (e eu escrevi isso com ‘tu’ porque é muito legal né, vamos combinar).


Todas as quintas temos um almoço oferecido pela empresa, que pode ser feito por algum colega ou comprado em algum restaurante próximo. No pouco tempo em que estou aqui já comi comida do chipre e da índia. Quer dizer, difícil não tá.


Além disso, temos frutas, café, água, leite, tudo de graça e disponível.
Vocês me desculpem, mas eu fico feliz com essas regalias.


O que fazemos aqui poderia ser visto como trabalho de escritório típico, só que tem um desgaste intelectual muito grande, além da responsabilidade que recai sobre cada um dos estagiários, já que somos RESPONSÁVEIS por nossas línguas (com muita supervisão e controle de qualidade, claro).


Além disso, estou com um baita de um orgulho do Brasil, que é o pais da zoeira, mas também é um dos mercados mais importantes do bab.la, onde muita gente procura muitas palavras constantemente no dicionário. Vocês podem interpretar como quiserem, eu interpreto que é porque o brasileiro gosta de tentar entender as coisas, tendo ou não os materiais e a infra-estrutura para tal.


Enfim, já estou tendo que procurar algo para fevereiro, e não sei se quero continuar nessa área das línguas. Para vocês terem uma ideia, as partes mais legais são escrever os artigos pro blog e aprender coisas novas de SEO e Marketing, então não sei direito onde essas coisas vão me levar. Mas a experiência conta demais. Vou sempre pensar muito antes de buscar palavras em algum dicionário online, vou sempre pensar na pessoa que está por trás.


Por sinal, cada vez que vocês procuram alguma coisa nos dicionários de português e não acham, tudo isso vai pra uma lista que eu tenho que revisar e traduzir. Então, por obséquio, não me bombardeiem com palavras toscas porfavorobrigada.


E se vocês ficarem digitando coisas obscenas ou frases inteiras, estaremos sempre de olho (insira risada maléfica) e a Benedetta vai provavelmente dar uma gaitada do meu lado, rindo dos pobres mortais que povoam o reino da internet.


Brincadeira.




Lúcia

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