Querida Catarina,
Aqui quem fala é a dinda.
Ou prima.
Como tu quiser me
chamar.
Eu vi teu primeiro banho.
Eu vi a felicidade incomparável de um recém-pai.
Tua mãe cansada e feliz me abanando de longe.
Eu vi tua primeira casa. Lá eu vivi muitos momentos felizes.
Eu fugia pra lá em momentos de crise, pra ouvir conselhos,
comer nachos, dançar ou pintar o cabelo.
Pra rir, pra compartilhar gargalhadas.
Teus pais eram pais antes de serem pais.
Eu lembro da tua primeira imagem, eu lembro de todos
querendo dar palpite sobre quem seria a Catarina.
Espero que tu viva livre de palpites. E se os tiver, que
saiba aceitá-los.
Espero que a vida seja tão boa quanto estar na barriga da
mãe ouvindo ela cantar pra ti.
Eu provavelmente não vou ouvir ou estar próxima para
presenciar tuas primeiras palavras.
Talvez nem os primeiros passos.
Talvez demore pra que tu saiba quem eu sou.
Quando a gente é assim, novo no mundo, só reconhece quem é
presente.
Tua mãe também não viu meus primeiros passos, nem minhas
primeiras palavras.
Mas ela tem um dos primeiros espaços no meu coração.
Assim como presenciou os primeiros choros de dor de
cotovelo, e muitas primeiras alegrias.
Uma das minhas dindas quase nunca esteve no mesmo continente.
E hoje ela nem está.
No mundo.
Ela, com suas cartas e as ocasionais conversas na beira da
praia, povoou minha infância e sempre esteve, pelo menos no meu coração, na
mesma casa, na minha casa.
Eu espero que eu também povoe algum tipo de experiência tua.
Eu espero que eu veja muitos dos teus primeiros.
Assim como tu és minha primeira, e a primeira para muitos.
Eu espero que meu choro de saudade seja o teu primeiro.
Mas não chora, é um choro de felicidade também.
Pra conquistar algumas coisas às vezes precisamos de
saudade.
Mas espero que tu nunca tenha que chorar de saudade.
E que se for, que seja por um motivo bom.
E que se for, que não seja só por primeiros, mas por últimos
e meios também.
A dinda te ama, sem nem te conhecer tanto assim.
Muitos beijos da fria Hamburgo,
Lúcia
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