quarta-feira, 19 de novembro de 2014

De abraços e carinhos

Eu gosto de abraçar.
Eu gosto de pessoas que abraçam. Eu sou uma dessas pessoas.
Mas eu aprendi e ainda aprendo todos os dias que o toque e o abraço constante não são as únicas maneiras de se demonstrar carinho.
Assim como eu me irrito quando supõem que a minha cultura é fraca por ser mais abertamente "calorosa" ou mais emotiva, me irrito quando me pego pensando que o modo diferente de demonstrar carinho, que não seja o mesmo que o meu, significaria a falta dele.

Não é falta.

Eu só não conheço ainda as pessoas aqui o bastante pra me sentir à vontade para o abraço.

O abraço é muito íntimo.

Eu não achava isso antes, agora eu acho.
Só que eu adoro surpreender alguém com um abraço. Às vezes é só isso que a gente precisa.
É legal surpreender alguém com intimidade.
No trem, um pai e um menininho, quase bebê, a criança não parava quieta, queria ficar em pé, e acabou encostando no meu joelho.
O pai ficou morrendo de vergonha.
"Para com isso! Tá incomodando a moça"
Eu olho, sorrio e digo "tudo bem, não tem problema" e volto a ler meu livro.
Esse pai ficou tranquilo.
Ele não tava incomodando a moça.
Eu gosto de ser a pessoa que não está sendo incomodada.

Eu aprendi, nos tempos de pré-adolescência, o significado de carinho. Achava que minha avó não gostava de mim porque ela não era tão "carinhosa" que nem a outra vó.
Só que fazer cachecóis, blusões, biscoitos e pão com mel é uma das várias maneiras de demonstrar carinho. Assim como insistir que eu tocasse direito alguma música na flauta porque, afinal, ela sabia que eu conseguia, e eu achava aquilo tudo muito chato.
O carinho é uma coisa muito tênue.
Eu ainda adoro o abraço, mas aprendi que o carinho está em coisas muito pequenas também.
O carinho tá, ao mesmo tempo, na mãe que diz "vai, te manda pra alemanha e aproveita muito lá" e do pai que chora e diz "com quem eu vou ver anaconda agora?"

Faz quase um mês que estou aqui. É pouco.
Mas eu sinto mesmo assim. Sinto falta do abraço que a virtualidade não pode me dar.
Mas aí de novo, sou eu achando que carinho é só isso.
Carinho é também quando o Julius chega em casa e grita 'HALLOOO' ou quando vem correndo na minha direção, abraça minhas pernas e diz "Niniiiiii"
Carinho é também quando a Clara segura na minha mão ou me dá tchau da janela.
Carinho é quando a Tini me põe um bule de chá separado só pra mim ou me alcança o tipo de pão que eu gosto.
Ou quando o Lorenz chega do trabalho e diz "Na? Wie war's?"
Carinho é quando a caixa do supermercado diz "Moin moin"

Tá, talvez isso não seja. Ela diz isso pra todos.

E quando vou visitar o primo do meu vô para um chá, ele me abraça longamente. Eu aproveito aquele abraço de Opa. É um pouquinho do meu jeito de demonstrar carinho.

Quem sabe quando eu conhecer melhor as pessoas aqui posso começar a demonstrar a minha forma de carinho.
Que é aquele abraço inesperado numa manhã de inverno.

Por enquanto, vou me contentando com os bules de chá e os ''moin moin'' de cada dia.



2 comentários:

  1. Saudades,tu és linda demais. Hoje eu to aqui no lugar aonde se abraça e preciso mais que um abraço, to lendo e chorando... queria um colo, colo mesmo.apoio, abraço, sugestões, saídas.Queria um ouvinte atento e carinhoso e generoso para ouvir, ponderar
    , queria o amor de um amigo, um hiper, mega, grande amigo.Beijão e to te abraçando muito forte, to te esmagando Cho.

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  2. Awn, você é muito querida, Lú! Rolou até uma lagriminha aqui enquanto lia essa lindeza :')

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